A Biblioteca de Alexandria, o coração da humanidade
Fundando uma biblioteca
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Mudar o Egito
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Sarcófago real em Mênfis |
Fazer com que o povo, ou pelo menos sua elite, se livrasse de ser tiranizados por sacerdotes e mágicos de ocasião que infestavam o pais. Gente que só pensava em viver num outro mundo, o do Além, e como seriam sepultados. Era o momento deles darem um basta ao Vale dos Mortos e celebrar os hinos à vida, exaltada pela cultura helenística. Mesmo os horrores de uma tragédia de Ésquilo ou Sófocles tinham mais emoção e paixão do que o soturno Livro dos Mortos. Era a hora das múmias e dos embalsamadores cederem o seu lugar aos sátiros e aos cientistas, de pararem de adorar o Boi Apis e se convertessem ao culto dos deuses antropomórficos. Filadelfo, porém, que era um entusiasta da ciência, num ato sincrético, fundindo costumes gregos com egípcios, resolveu reintroduzir o antigo cerimonial existente entre as dinastias do país do faraó esposar a própria irmã, tornando a princesa Arsinoe II a sua mulher. Dizem que um outro Ptolomeu, dito Evergetes (o Benfeitor), morto em 221 a.C., ficou tão obsecado em aumentar o acervo da biblioteca que teria ordenado a apreensão de qualquer livro trazido por um estrangeiro, o qual era imediatamente levado aos escribas que então tiravam uma cópia, devolvendo depois o original ao dono, premiado com 15 talentos.
Por essa altura, entre os séculos II e I a.C., Alexandria , que fora fundada por Alexandre o Grande em 332 a.C., assumira, com todos os méritos, ser a capital do mundo helenistico. Centro cosmopolita, por suas ruas, praças e mercados, circulavam gregos, judeus, assírios, sírios, persas, árabes, babilônios, romanos, cartagineses, gauleses, iberos, e de tantas outras nações. A efervescência dai resultante, é que fez com que ela se tornasse um espécie de Paris ou de Nova Iorque daquela época, cuja ênfase maior foi porém a ciência e a filosofia.
(*) Os Lágidas ou Ptolomeus, governaram o Egito a partir da partilha feita entre os Diadochoi, os diádocos, os generais de Alexandre o Grande, quando da morte deste em 323 a.C. Coube ao primeiro Ptolomeu, autodesignado Sóter (o Salvador), tornar-se rei do Egito no ano de 305 a.C., iniciando uma dinastia que teve 14 Ptolomeus e 7 Cleópatras. A última rainha do Egito foi Cleópatra VII, que suicidou-se em 30 a.C. , ocasião em que o país caiu sobre a dominação romana de Otávio Augusto.Para qualquer intelectual grego ser convidado para o cargo de bibliotecário-chefe em Alexandria era atingir o Olimpo. Cercado por milhares de manuscritos, quase tudo o que a sabedoria antiga produzira sobre matemáticas, astronomia, mecânica e medicina, ele sentia-se como se fosse um Zeus todo-poderoso controlando as letras, os números e as artes. Conviver com rolos e mais rolos, bem organizados e classificados por assuntos, dos escritos de Platão, de Aristóteles, de Zenão, de Euclides, de Homero, de Demóstenes, de Isócrates, de Xenofonte, de Píndaro, de Tucidides, de Safo, e de tantos outros, era um deleite permanente (*).
Ao que se somava a Septuagint, os 70 manuscritos que continham a tradução do Pentateuco, o Velho Testamento hebraico para o grego, feito por 72 sábios judeus convidados por Ptolomeu Filadelfo para realizar o feito em Alexandria. As atribuições do bibliotecário-chefe transcendiam as funções habituais, pois eles eram também humanistas e filólogos encarregados de reorganizar as obras dos autores antigos (foi Zenôdo quem estruturou a Ilíada e a Odisséia em 24 cantos cada um, depurando-lhes os versos espúrios). Além disso, ele também era encarregado da tutoria dos príncipes reais, a quem devia orientar nas leituras e no gosto.
(*) Os rolos de papiro mediam 25 cm de altura por 11 metros de cumprimento, alcançando alguns até 30 metros. Eram escritos sem separação das palavras, com exceção de uma pausa (paragraphos), não havia vírgulas nem pontuação. As folhas, denominadas de cólemas, eram coladas umas as outras antes da sua utilização, e a página que abria o rolo chamava-se protocollon (dai a nossa palavra protocolo).
Bibliotecário-chefe | Período |
Demétrio de Faléreo | 284 a.C. |
Zenôdoto de Éfeso | 284-260 a.C. |
Calímaco de Cirene | 260-240 a.C. |
Apolônio de Rodes | 240-235 a.C. |
Erastóstenes de Cirene | 235-195 a.C. |
Apolônio Eidógrafo | 180-160 a.C. |
Aristarco de Samotrácia | 160-145 a.C. |
O acervo e os cientistas
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Erasistratus, médico da escola de Alexandria cura o jovem Antíoco (tela de L.David, 1774) |
Desastres esses que de modo algum impediram que ela continuasse sendo visitada por homens ilustres como Arquimedes, ou tivessem embaraçados os cientistas da cidade. As contribuições universais do complexo cultural instalado em Alexandria, uma verdadeira fábrica de sabedoria, foram impressionantes: enquanto Aristarco esboçou a primeira teoria heliocêntrica (a que inspirou Copérnico), coube a Cláudio Ptolomeu, um geocentrista, fundar a moderna astronomia científica. Ao tempo em que Erastóstenes, um outro bibliotecário- chefe, mediu com precisão a Terra, o grande Euclides, ainda no tempo de Ptolomeu Sóter, lançava o Stoicheia ( Elementos), seu imortal estudo de geometria. Até Hypatia, morta em 415, uma das primeiras cientistas que se tem registro, atuou por lá, até que fanáticos cristãos impediram-na de continuar com suas pesquisas.
O cerco intolerante sobre a biblioteca
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A boa nova que nos chegou do Oriente Médio, região tão rara em produzir noticias felizes, é o da inauguração da Nova Biblioteca de Alexandria, acontecido em outubro de 2002, um colossal empreendimento que visa recuperar a imagem da cidade como um centro de sabedoria, posição que perdeu há bem mais de 1500 anos . Que os espíritos dos grandes do passado inspirem os que virão no futuro nesta grandiosa tarefa.
Informação retirada do site: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/antiga/2002/10/31/002.htm
Um comentário:
Bibliotecas são um "antro cultural". Lá existem informações das mais variadas. Seria muito bom se cada família da sociedade brasileira tivesse em suas casas acervos de livros. Talvez o índice de informação, cultura, educação, cidadania etc. seria mais elevado.
Essa Biblioteca de Alexandria, sem dúvida, se for explorada com mais rigor lá se encontrará coisas bastantes significativas, principalmente para estudo cientifíco. Uma verdadeira obra de arte é: valorizar/conhecer uma cultura de outro país/comunidade/nação através dos livros. Um desenvolvimento para o conhecimento do homem.
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